Em março, no inicio da quarentena, o atendimento da Polícia Militar a vítimas de violência doméstica aumentaram 49,9% no Estado de São Paulo, segundo o relatório divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, FBSP.
Em Ribeirão Preto não foi diferente. O registro dos crimes classificados como violência doméstica nos dados da Secretaria Pública do Estado de São Paulo aumentaram em 2,41%. Parece pouco, mas até o final de março esses crimes exigiam a presença das vítimas nas delegacias.
De acordo com Maria Eugênia Ugucione Biffi, advogada e mestre em políticas públicas, o número de crimes que são subnotificados podem ser maiores. Os atendimentos de chamados no 190 de ocorrências classificadas como violência doméstica cresceram 44,9% em todo o estado de acordo com o FBSP.
“Apesar de termos um aumento dos registros, ainda assim nós sabemos que esses registros não correspondem aos números reais. Existe uma diferença muito grande entre o número de crimes e os crimes efetivamente registrados”, diz a advogada.
Por conta do isolamento social e da menor possibilidade trabalho externo, as mulheres estão vivendo mais com seus agressores, e esse pode ser um dos motivos do aumento da violência doméstica na região. “Costumam ser maridos, companheiros, pais ou padrastos”, comenta Maria Eugênia.
O crime mais comum é o de ameaça, com 104 registros em março de 2020, mas lesão corporal vem em terceiro lugar, com 37 registros. No gráfico abaixo é possível ver os 8 crimes mais cometidos contra mulheres em casa durante o início da quarentena.
Em Ribeirão Preto, a maioria dos registros no período da quarentena foram feitos por pessoas com o 2º grau ou o superior completo. Para a advogada, isso relata que as pessoas com menor escolaridade são as que possuem menos acesso à informação.
“Muitas vezes a informação fica longe. Chega uma informação a um grupo vulnerável, mas com alto grau de tecnicidade, com pouca compreensão daquelas pessoas. Ou mesmo enquanto acesso no sentido de fortalecimento das estruturas institucionais que são capazes de acolherem mulheres com menor escolaridade”, coloca.
Ainda conforme Maria Eugênia, a violência patrimonial é uma das principais violências contra as mulheres. “Essa diferença na questão da remuneração impõe um reforço a um estereótipo que reproduz a violência”, comenta. “Nossa estrutura enquanto sociedade reforça alguns estereótipos que correspondem ao prover a casa enquanto uma função social da homem e o trabalhar em casa, cuidar do lar, uma função social da mulher”.